05/10/2010

Campanha 10:10:10 contra as mudanças climáticas


Em um dia, qual é a sua “contribuição” para a emissão mundial de CO2 e, assim, para as mudanças climáticas? Para reverter esse quadro, você se comprometeria em reduzir 10% do seu consumo de carbono? Essa é a proposta da campanha mundial 10:10:10, que visa transformar o dia 10 de outubro de 2010 na data com o maior número de ações positivas contra as mudanças climáticas da história.

A mudança climática é uma realidade que vem se impondo com força sempre maior, assim como o reconhecimento – hoje com cada vez menos objetores – da sua relação com a intervenção humana na Terra. Simultaneamente, cresce a consciência – e as práticas – de que isso não é uma fatalidade. Pelo contrário. Como costuma repetir o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin, “lá onde cresce o perigo, cresce a luta pela salvação".

“O impacto das mudanças climáticas sobre o meio ambiente, a biodiversidade, a saúde e a segurança dos seres humanos se tornarão sempre mais graves se as emissões de gás de efeito estufa não forem imediatamente reduzidas” reflete a Julia Marton-Lefèbre, em entrevista especial à IHU On-Line. Mas, alerta a diretora-geral da União Internacional pela Conservação da Natureza – UIC –, que reúne governos, ONGs e cientistas, “a natureza também está em condições de nos fornecer utensílios poderosos para lutar contra a mudança climática”.

A campanha 10:10:10 parte desta constatação. A aproximação do perigo que a mudança climática pode representar para a vida na Terra é, por outro lado, momento propício – o kairós – para a ação. A vida tem o instinto de se manter viva. E há “utensílios” que podem ser aproveitados para a “salvação” da vida. Evitar que isso aconteça é sinal de responsabilidade para com toda a criação.

A campanha é a conjunção de, ao menos, três campanhas de alcance mundial. A campanha 10:10 Global (www.1010global.org) surgiu em 2009 na Inglaterra com a Franny Armstrong, diretora do filme A Era da Estupidez, sucesso de bilheteria sobre as mudanças climáticas. A campanha foi lançada oficialmente em setembro de 2009 e atraiu a adesão de milhares de pessoas, empresas, escolas e organizações. Atualmente, a campanha conta com a participação de mais de quase 100 mil pessoas, milhares de empresas e líderes de todo o mundo, que se comprometeram em reduzir em 10% a sua emissão de gás carbônico.

Este ano, a campanha ganhou a adesão de outra ação mobilizadora, a “350”, também conhecida como Dia Global de Soluções Climáticas. A 350.org busca soluções para a crise climática a partir de uma conscientização em torno das 350 partes por milhão de CO2, taxa que, se for superada, segundo os cientistas, acelerará ainda mais os danos causados pelo aquecimento global, que já são visíveis. No dia 10 de outubro de 2009, a 350.org coordenou mais de 5.200 marchas e manifestações simultâneas em 181 países, naquilo que a CNN chamou de “o mais abrangente dia de ação política na história do planeta”.

Esta parceria, junto com outras organizações ambientais, veio para colocar como marco das ações da campanha o dia 10 de outubro de 2010 (por isso 10:10:10). Esse será o dia da maior mobilização local contra as mudanças climáticas em todo o mundo. Assim, uma rede internacional de campanhas 10:10 estará em movimento nessa data, reunindo pessoas e organizações de todo o mundo para cortar em 10% as suas emissões de CO2 em um ano.

Campanha 10:10:10 e o Tempo para a Criação

Como se já não bastasse, em 2010 a campanha ainda recebeu a adesão do Conselho Mundial de Igrejas. Em setembro de 1989, o patriarca ecumênico Dimitrios I, já falecido, iniciou a tradição anual de orar pelo meio ambiente. Assim, a cada ano, de 1 de setembro – primeiro dia do ano da Igreja Ortodoxa – a 4 de outubro – dia de São Francisco de Assis, na tradição católica – as igrejas são chamadas a participar do chamado Tempo para a Criação, tempo de reflexão e de oração pela natureza.

O "Tempo para a Criação" é um período privilegiado para que as Igrejas reflitam e rezem pela proteção do meio ambiente "como Criação divina e herança compartilhada", nas palavras do Patriarca Ecumênico da Igreja Ortodoxa, Bartolomeu I.

O tema do "Tempo para a Criação" deste ano, "Criação florescente: Um momento para a celebração e o cuidado", também está relacionado ao Ano Internacional da Biodiversidade, da ONU.

Este ano, excepcionalmente, o "Tempo para a Criação" irá encerrar no dia 10 de outubro, para se unir à campanha 10:10:10 com orações, vigílias e ações concretas.

Atualmente, a data é reconhecida por ortodoxos, protestantes e católicos. Dentro desse espírito ecumênico, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU – e o CEPAT também se somaram à campanha 10:10:10 com ações concretas. Com vistas a fomentar a conscientização e reflexão sobre o "Tempo para a Criação", a IHU On-line publicou e continuará a publicar diversos materiais nas Notícias do Dia, nas Entrevistas do Dia e no blog. A Revista IHU On-Line de 04 de outubro abordará esta temática, e o gesto concreto será o de que esta edição não terá versão impressa. Além disso, será desenvolvido pelo IHU amplo programa de debates e ações até o dia 10-10-10 que será divulgado na próxima edição da Revista.

De 5 de setembro até 10 de outubro, sempre aos domingos, são publicados textos de autoria do reverendo anglicano inglês Keith D. Innes, membro do Churches Together in Britain and Ireland, órgão ecumênico que reúne diversas Igrejas cristãs dos dois países. São reflexões sobre as principais leituras das celebrações dominicais do Lecionário Comum das Igrejas cristãs.

As reflexões desse período serão as seguintes:

Semana 1: 5 de setembro
Soberania de Deus, responsabilidade humana
Semana 2: 12 de setembro
A comunidade de toda a criação
Semana 3: 19 de setembro
As consequências da ganância e da injustiça
Semana 4: 26 de setembro
O amor ao dinheiro e suas consequências
Semana 5: 04 de outubro
Dia de São Francisco - Colheita de Ação de Graças

Faça a sua parte

A campanha 10:10:10 assenta sobre a divisa “pensar globalmente, agir localmente”. Assim, mesmo problemas que afetam a Terra inteira podem ser enfrentados a partir de ações locais. A campanha aposta na capacidade de tomar iniciativas, modificar práticas e hábitos e não na impotência. Significa um politizar as atitudes e o cotidiano.

Quando Franny Armstrong pensou na campanha 10:10, no contexto dos debates sobre Clima e Energia, teve presente duas coisas. O relatório de Segurança Climática avaliou que um corte de 10% nas emissões dos países desenvolvidos em 2010 era o tipo de objetivo que poderia ajudar a maximizar a possibilidade de evitar uma catástrofe climática. E, em um artigo recente, o ambientalista britânico George Monbiot havia exposto o tipo de medidas necessárias para alcançar esse tipo de cortes rápidos nas emissões de carbono. Além disso, os 10% em 2010 também pareciam ser um objetivo bem mais tangível do que os distantes 80% até 2050, defendidos por alguns políticos europeus.

Segundo Julia Marton-Lefèbre, “cabe a cada um adotar gestos ecológicos no cotidiano...”. E é isso que já está acontecendo pelo mundo afora e que será reforçado com a campanha 10:10:10. Uma série de iniciativas estão sendo organizadas ao redor do mundo. São propostas assumidas por grupos e indivíduos, que serão realizadas no dia 10:10:10 ou ao longo de um ano, a partir dessa data, como forma de combater as mudanças climáticas. Veja também os 20 gestos concretos em torno da proteção da Criação que podem ser realizados em nosso cotidiano para ajudar o meio ambiente e reduzir o nosso consumo de carbono e emissão de CO2.

Começar por cima – comprometer os líderes mundiais

“Cabe a cada um adotar gestos ecológicos no cotidiano e incitar os governos e as empresas a fazer da preservação da biodiversidade uma prioridade maior”, incita Julia Marton-Lefèbre.

Esta campanha tem a vantagem de trabalhar não apenas no nível pessoal, local, por mais importante que isso possa ser. Há quem critique as ações nesse nível, e com razão, quando desvinculadas do contexto mais amplo. Entretanto, é de se considerar que a consciência ecológica não nasceu entre os políticos nem no mundo dos negócios. Pelo contrário, nasceu da iniciativa da sociedade civil. Por isso, concomitantemente, trata-se também de incitar os líderes mundiais – econômicos e políticos – a também implementarem políticas com vistas à redução do consumo de carbono e emissão de CO2.

Por uma feliz coincidência, o dia 10 de outubro de 2010 está a exatas 10 semanas do encontro dos políticos do mundo inteiro, que se reúnem novamente no México para tentar finalizar o acordo climático que não foi alcançado em Copenhague. Por isso, uma das campanhas que compõem o mosaico de ações do 10:10:10 é a Começar por cima. O abaixo-assinado pede que os líderes mundiais incentivem a instalação de painéis solares em seus países até o dia 10:10:10 e que assumam um real compromisso para criar políticas que possam fomentar o uso de energias limpas.

O presidente Mohamed Nasheed, das Maldivas, e a presidente Pratibha Patil, da Índia, por exemplo, já se comprometeram com a proposta. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por sua vez, perdeu uma ótima oportunidade para aderira à campanha. Algumas semanas depois de destinar US$ 2 bilhões para novas pesquisas com energia solar, decidiu vetar a instalação de painéis solares no teto da Casa Branca.

Também há um abaixo-assinado dirigido especificamente ao presidente Lula, convocando-o a instalar painéis solares nos telhados do Palácio da Alvorada e a criar uma legislação que possibilite que os brasileiros ajudem na construção de um “futuro de energias limpas”.

Em sua versão brasileira, o pedido é claro e explícito:

Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a hora de agir em relação à crise climática.

No dia 10/10/10, milhares de comunidades de todo o mundo irão se juntar para celebrar soluções pelo clima. Por todo o mundo, vamos colocar painéis solares, instalar turbinas eólicas, criar jardins comunitários e muitas outras coisas.

Quer juntar-se a nós? Instale painéis solares nos telhados do Palácio da Alvorada, e depois crie uma legislação que torne possível a toda a gente no país juntar-se ao senhor num futuro de energias limpas. Precisamos da sua ação simbólica – e depois de ação de verdade.

Observe-se que o Palácio da Alvorada passou recentemente por uma milionária reforma que simplesmente "esqueceu" deste "detalhe".

A crescente receptividade da campanha mostra que as pessoas estão sedentas de participação e querem de alguma maneira mostrar que todos podem se envolver localmente para fazer frente a uma questão global.

Muitos já estão fazendo a sua parte
Iniciativas do local ao global

Em consonância com as campanhas 10:10:10, Tempo para a Criação e 350.org muitos já estão fazendo a sua parte faz algum tempo. Há vários movimentos na sociedade mundial em busca de outro paradigma civilizatório. Um paradigma que seja sustentável com a natureza e as necessidades humanas presentes e futuras.

Particularmente no que concerne ao esforço em reduzir a pressão sobre os recursos naturais e mitigar a emissão de poluentes há várias iniciativas em curso na sociedade mundial. Todas elas têm em comum o fato de que buscam formas alternativas de vida, de produção, de organização e atuação política. Surgem por iniciativa de um grupo de pessoas, caracterizam-se como ações “locais”, mas pretendem que se tornem práticas e/ou políticas de caráter global.

Dentre as várias iniciativas que estão em sintonia com o espírito das campanhas descritas destacamos os movimentos: Dia mundial sem carro, Segunda-feira sem carne ou dieta do clima, Slow Food, Agroecologia, ecoblogueiros, Vivem Bem, e o amplo movimento da Economia Solidária.

FONTE: ReTrans
Veja matéria na íntegra em






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fotos CMCP


Veja mais fotos como esta em RETRANS - REDE TRANSCULTURAL HOLISTA
http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150244167034846.339282.657464845

ESPAÇO HOLÍSTICO ESTRELA SOLAR